quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O Jardim do Algarve

Monchique
O Jardim do Algarve

A Serra de Monchique ergue a sua silhueta bruscamente, com fortes pendores mas formas suaves, acima do mar de colinas xistentas que a rodeiam. Esse paradisíaco jardim, que se desenvolve entre termas e belos recantos de montanha, desafia o caminhante a conhecer os seus pormenores ocultos.

A vila de Monchique, a cerca de 450 metros de altitude, é o ponto de partida para o percurso que irá por este miradouro verdejante sobre o litoral algarvio. Partindo da Travessa da Portela, junto da Câmara Municipal, sobe-se por estreitos e íngremes ruelas até ao Desterro, onde se acha o convento dos franciscanos (530 m). Em ruínas desde o terremoto de 1755, deste edifício pouco mais resta que a frontaria e uma nave, sendo no entanto, de destacar os enormes plátanos e nogueiras da sua antiga quinta.
Seguindo pelo caminho de pé-posto que avança em direcção a Relvinhas, vira-se à esquerda, para oeste, ao longo da estrada de terra batida que avança cimeira ao Barranco da Garganta, um verdejante vale densamente cultivado em grandes socalcos que aqui se designam por “canteiros”. Chegados ao lugar da Garganta, toma-se o rumo sul, passando para a vertente direita do vale.
A estrada de terra batida por onde se segue, abaixo da Relva Branca da Fóia, apresenta várias bifurcações, mas se se optar sempre pelo caminho da direita chegar-se-á ao sítio dos Montes da Fóia (780 m). Aí, toma-se o caminho que vira à direita, para este, e que aos poucos vai curvando rumo ao poente para passar, um pouco acima da Fontinha da Fóia, já na vertente setentrional da montanha.
Continuando a subir por essa velha estrada, pode-se apreciar a panorâmica que se abarca desde a Relva do Carrapateiro aos montes alentejanos da serra xistenta que se perdem no horizonte.
Pequenas casas construídas em pedra sienítica encontram-se, aqui e ali, dispersas no vale – tugúrios de pastores que, na maior parte dos casos, se encontram em ruínas. O cume e grande parte da encosta da Fóia surgem repletos de blocos e penhascos.
Quando D. João II deu a Fóia aos habitantes da povoação de Monchique, ainda essa elevação apresentava a sua cumeada coberta por árvores, nomeadamente sobreiros e azinheiras, de que não restam vestígios devido aos incêndios. Actualmente, a cumeada desse grande dorso sienítico encontra-se revestida por matos de Esteva, Urze, Alecrim, Tomilho, Trovisco e outras pequenas plantas.
A estrada que se tem seguido até aqui leva ao topo da montanha, virando à esquerda para Pegões (892 m) e depois à direita em direcção ao Monge, vértice geodésico de primeira ordem que assinala o ponto mais elevado da serra – a Fóia (902 m). Daí, em dias de boa visibilidade, podem vislumbrar-se vastos horizontes, desde a costa meridional algarvia, a sul, até à Serra da Arrábida, a norte.
Após um descanso merecido, deverá o viajante “fazer-se ao caminho”, pois ainda há muito para andar. Desce-se o vale que parte da Fonte da Égua por uma estrada empedrada e, na bifurcação desta, volta-se à esquerda, indo dar a uma casa tradicional: mais uma que infelizmente se encontra degradada. O caminho que começa junto desta construção de pedra atravessa a ribeira do Barranco Porto do Cano leva até à estrada que, após passar em habitações de arquitecturas mais recentes, desemboca, ao km 4, na EN 266-3.
Entre o km 3 e o km 2, sai-se da estrada alcatroada virando à direita para o sítio de Bouça. No meio de denso arvoredo, em que os eucaliptos se destacam por entre caminhos de pé-posto, desce-se por esse grande vale a que o povo chama “Barrocal”, em direcção a Nave da Papoila.
O vale da Ribeira de Boina (vulgo Barrocal), que se estende desde Monchique às Caldas de Monchique, é bastante povoado. De facto, essa grande depressão entre a Fóia e a Picota está preenchida por um intenso pontilhado de pequenas propriedades que aproveitam a copiosa fertilidade desses solos, cobertos de húmus, para cultivar grande diversidade de frutas e legumes. Nesse vale de erosão abundam, entre outras árvores, as oliveiras e os sobreiros, assim como os mais recentes e comuns eucaliptos.
Chegados à estrada de terra batida que liga a Nave a Monchique, segue-se na direcção desta vila. No cruzamento da EN 266, à estrada de Monchique, vira-se à direita, seguindo pela Calçada do Pé da Cruz em direcção ao diminuto povoado de Serra. Daí até à Picota (774 m) já falta pouco mas o declive acentuado vai abrandar o ritmo da marcha. Essa notável elevação penhascosa e pontiaguda proporciona, tal como o topo da Fóia, um miradouro natural de onde se poderão vislumbrar amplas panorâmicas. A subida pela vertente setentrional, íngreme e rochosa, aconselha aliás um breve repouso no cimo dessa elevação.
A partir daí, o percurso desce a vertente sul por trilho aberto em densa floresta que nos conduzirá ao Montinho do Craço, onde uma casa e a sua fresca horta aguardam os caminheiros. No entanto, nada de paragens, pois ainda há que andar até Vale das Perdizes e, daí, até ao Covão da Águia. Só então o tanque de rega que aí se encontra junto a um casarão (diríamos quase senhorial) não permite a continuação sem uma paragem refrescante.
Deste local, via Pedras Novas, o caminho, quase sempre a descer, conduz ao belíssimo povoado de Caldas de Monchique, rodeado por exótica e densa vegetação. Esta estância termal, frequentada pelo menos desde a presença dos árabes na península, será o termo desde longo mas gratificante percurso.

(Pedro Cuiça in Guia de Percursos Naturais. Lisboa: Forum Ambiente, 1995; pp. 181-186)



Ficha Técnica
Extensão: 20541 m
Duração média: 6 h 30 mn
Dificuldade: nível III
Desnível acumulado: +866 m, -1076 m
Altitude média: 585 m
Paisagem: bosques de Quercíneas e castanheiros, campos de cultivo e matos arbustivos
Áreas abrangidas: Biótopo CORINE da Serra de Monchique
Época aconselhada: todo o ano
Acessos: via Portimão - Caldas de Monchique (EN 266) ou Aljezur - Marmelete - Casais (EN 267)
Pernoita:
- Parque de Campismo (Orbitur) de Portimão
- diversos parques de campismo em Lagos
Concelhos abrangidas: Monchique

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