terça-feira, 18 de março de 2014

Algo (II)...

“ Brilhando como entre erva alpina,
Gencianas azuis desabrochadas e que ninguém possui.”
Aldous Huxley

Os locais de difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem. No entanto, o grande incremento das actividades de ar livre, que se verificou nas últimas décadas, começa a reflectir-se na qualidade desses sítios de grande riqueza natural e beleza paisagística. Com efeito, a protecção devida à inacessibilidade do terreno já não funciona face ao grande incremento dos desportos de aventura, especialmente quando a construção de (novas) vias de comunicação, por si só, facilitam o acesso. A multiplicidade de actividades de ar livre é estonteante: desportos motorizados, caça e pesca, hidrospeed, canyonig, canoagem, parapente, asa-delta, bicicleta de montanha, marcha e/ou corrida de orientação, espeleologia, escalada, montanhismo, pedestrianismo, percursos equestres, esqui, etc..
Hoje em dia, “não deixar mais que pegadas e não tirar mais que fotografias” é insuficiente face aos problemas de massificação das actividades outdoor. Exigem-se medidas concretas, fundamentadas e eficientes que resolvam o paradoxo de como proteger e simultaneamente promover actividades de ar livre. Torna-se evidente que essas actividades terão de passar por uma ponderação, na perspectiva do que se entende por desenvolvimento sustentável, em que o diálogo entre os diversos intervenientes contribua para uma gestão coerente e equilibrada do património natural.
Actualmente chega-se à conclusão de que cada um de nós desempenha um papel, mais ou menos importante, nas alterações que se processam constantemente no meio: apesar das contribuições individuais serem pequenas ou mesmo insignificantes a sua soma poderá atingir grandes proporções. A massificação dos “terrenos de aventura” origina diversos impactes ambientais: pisoteio, incremento da erosão, ruído, destruição de vegetação, perturbação da fauna, detritos, risco de incêndio, restos de fogueiras, etc..

Pedro Cuiça – adaptado de Guia de Montanha (FCMP/ENM/Campo Base, 2010)

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