sábado, 5 de julho de 2014

A Mãe de Todas as Quedas!

Os dois acidentes ocorridos na ilha da Madeira, em Junho passado, no âmbito da prática de pedestrianismo e que se saldaram na morte de três “turistas alemães” mereceram o destaque dos media1 e, mais uma vez, vieram lembrar as “estatísticas”, tantas vezes ignoradas e de difícil confirmação, que estimam o falecimento na região de quatro a seis praticantes anualmente. Tendo em conta as ditas “estatísticas”, avançadas por órgãos de informação, que apontam para cerca de quatro a quatro mil e quinhentas pessoas a caminhar por dia, durante a época alta, talvez se chegue à conclusão que o número de mortes não será tão elevado, como possa parecer à primeira vista, se comparado com a prática de pedestrianismo em outras regiões como, por exemplo, a área francesa do Maciço do Monte Branco de que se conhecem estatísticas fidedignas e disponibilizadas todos os anos. Mas não nos move aqui o intuito de analisar ou sequer tecer quaisquer considerandos acerca da fenomenologia dos incidentes e/ou dos acidentes na conjuntura da prática do pedestrianismo na Região Autónoma da Madeira, ainda para mais quando já existem estudos sobre a matéria que ultrapassam o mero nível de singelos comentários2.
No que concerne a incidentes e/ou acidentes na prática de pedestrianismo, em geral (portanto independentemente dos circunstancialismos locais), gostaríamos de salientar, isso sim, a importância de investir fortemente na prevenção/formação. Os praticantes devem possuir conhecimentos e experiência suficientes, tal como disporem de equipamento adequado, para as actividades em que se envolvem e os turistas devem ser enquadrados por profissionais devidamente certificados e que garantam a qualidade, nomeadamente em termos de segurança, dos serviços que prestam. Por outro lado, os percursos pedestres balizados devem estar nas melhores condições, desde logo no tocante ao número, visibilidade e qualidade das marcas. E escusado seria dizer que tanto pedestrianistas quanto turistas deveriam possuir seguro para a prática da modalidade não se desse o caso de muitas vezes isso não acontecer! Por vezes tal sucede porque os envolvidos são induzidos em erro ao, considerando o pedestrianismo como fácil, confundirem os conceitos de dificuldade e de perigosidade (tal como perigos e riscos) e, nesse contexto, pensarem ser desnecessário satisfazer um conjunto de requisitos para uma prática (mais) “segura” dessa actividade!! Por isso, encontrando-se em percursos tecnicamente fáceis, como uma levada, sujeitam-se frequentemente a perigos óbvios, como queda de pedras e/ou dos próprios praticantes, sem se darem conta da situação em que estão envolvidos!!!
No campo de acção da prevenção gostaríamos de destacar o exemplo do projecto Montañas Seguras, actualmente denominado “Montaña Segura”, que se focou na prevenção de acidentes em meio montanhoso e que, entre outras iniciativas, resultou na publicação de diversos folhetos informativos, designadamente no âmbito do pedestrianismo, e na elaboração do MIDE – Método para la Información De Excursiones. Dentro dessa temática destacamos igualmente a publicação de La Seguridad en Montaña3, resultante dos trabalhos desenvolvidos durante o VII Seminario de Parques Nacionales y Deportes de Montaña que decorreu, de 15 a 17 de Novembro de 2013, no Centro Nacional de Educación Ambiental de Valsaín (Segóvia – Espanha). O evento, organizado pela Federación Española de Deportes de Montaña y Escalada (FEDME), em colaboração com o Organismo Autónomo de Parques Nacionales, reuniu 64 especialistas (representantes de 15 Comunidades Autónomas), entre montanheiros e gestores ambientais, que estabeleceram algumas linhas mestras em matéria de segurança.



Notas:
1. Surgiram notícias em vários suportes informativos, como a TVI, o Diário de Notícias ou o Observador, entre outros.
2. Nesse contexto, destacamos a tese de mestrado Turismo e Riscos na Ilha da Madeira – Avaliação, Percepção, Estratégias de Planeamento e Prevenção (2010), da autoria de Daniel Márcio Fernandes Neves.
3. Documento na versão inglesa: Safety in the Mountains.

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