segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Caminhos (dos) Simples

Pedro Cuiça © Caminhos Simples (Serra de Sintra, 17/12/2017)

«Entre essas provas condenatórias, pesarão especialmente as que acusarem os homens levianos e imprudentes de ter corrido atrás dos prodígios e casos maravilhosos, sem inquirir a sua origem; mais para satisfazer a sua curiosidade ignorante, do que para buscar a sabedoria, a qual segue os caminhos mais simples*. A verdadeira ciência é que tem a chave das maravilhas eternas e naturais; ora essa chave só se encontra na luz da inteligência; e a luz da inteligência só se encontra nas humildes e vivificantes virtudes da alma. Assim como a luz que a lâmpada de azeite nos eferece só é assim tão pura e brilhante porque o azeite é a substância mais doce e benfazeja que há na terra. A este feliz destino é que tudo nos deveria conduzir. Mas, enquanto os homens prudentes procuram a sabedoria, os outros, e são a maioria, só procuram o brilho artificial das coisas. É isso que leva a verdade a usar todos estes meios sensíveis, como os que utilizo; os quais, sem isso, seriam inúteis, pois os caminhos simples seriam suficientes para aperfeiçoar a primitiva natureza do homem[SAINT-MARTIN, 2016: 185]

O pôr-do-sol a leste [Pedro Cuiça © Monge (Serra de Sintra, 17/12/2017)]


*Ao bom estilo do princípio da Navalha de Ockham, atribuído ao frade franciscano William de Ockham (séc. XIII): entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade). Ockham defende a intuição como ponto de partida para o conhecimento do Universo e o princípio de que os processos naturais optam invariavelmente pelo caminho mais simples.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SAINT-MARTIN, Louis-Claude de. O Crocodilo ou a Guerra do Bem e do Mal. Sintra: Zéfiro, 2016, pp. 316. ISBN 978-989-677-142-3

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