terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Campos

D'os campos... subliminares


(…)
Essa experiência é comum?
Conecto-a ao meu senso direcional, que todos os alpinistas e viajantes que estiveram comigo admitem ser absolutamente excepcional.
Caso eu deixe minha tenda ou cabana por uma porta voltada, por assim dizer, para Sudoeste, durante todo o dia, por sobre todos os tipos de solos, através de qualquer selva que se possa imaginar, em todos os tipos de climas, nevoeiro, nevasca, geada, de noite ou de dia, percebo até 5º (normalmente 2º) de variação na direção à qual estou voltado em relação a quando saí daquela tenda ou cabana. Caso aconteça de observar isso em uma bússola, obviamente que posso deduzir onde fica o Norte por mero julgamento de ângulo, no que sou muito preciso.
Indo além, mantenho um registro mental, totalmente inconsciente, do tempo gasto em marcha, de modo que sempre posso dizer seu tempo sem consultar o relógio, com precisão de cinco minutos.
E mais: tenho outro memorizador automático que mapeia distância e direção. Suponha que eu saia de Scott’s e caminhe (ou vá de carro, para mim é a mesma coisa) para Haggerston Town Hall (onde quer que Haggerston fique, mas digamos que seja NE) e dali eu saia para Maida Vale. De Maida Vale poderia ir diretamente a Picadilly de novo e não sairia de meu caminho por mais de cinco minutos, exceto se entrasse em becos sem saída, etc., e saberia quando estivesse novamente próximo ao Scott’s antes de reconhecer qualquer um dos seus arredores.
Sempre achei que eu, intuitivamente, tinha a direção e a distância de uma linha reta A (o caminho mais curto de Scott’s a Haggerston; mas faria pouca diferença caso fosse pela via Poplar, a despeito de qualquer volta a mais), outra intuição a respeito da linha B (de Haggerston até Maida Vale), e obtinha minha linha C (de volta para o Scott’s) por “trigonometria subliminar”.
Nesse exemplo, parto do princípio de que nunca estive em Londres antes. Certamente, fiz esforços similares em uma dúzia de cidades estranhas e até mesmo em confusos bairros populosos e pobres de Tanger ou do Cairo. Estou pior em Paris do que em qualquer outro lugar; penso, porque as ruas principais têm muita iluminação e isso me confunde. Também tal poder não se adapta à vida civilizada; definha-se enquanto vivo em cidades e renova-se quando retorno à boa terra de Deus. Uma tenda de sete pés e a luz das estrelas – quem poderia querer mais? [Crowley in WASSERMAN, 2009: 97]


Pedro Cuiça © Messner Mountain Museum Firmian (Tirol do Sul, 14/ Out. 2016)


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
WASSERMAN, James. Aleister Crowley e a Prática do Diário Mágico. São Paulo: Madras Editora, 2009, pp. 240. ISBN 978-85-370-0462-3

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