segunda-feira, 19 de março de 2018

Era A(l)titude


«No século XIX, a montanha passa a também exercer grande atracção turística, fruto de uma afinidade com a natureza decorrente do iluminismo e do romantismo, que a sentimentalizam. A abertura dos Alpes aos turistas terá contribuído bastante para o desenvolvimento do montanhismo e a Suíça torna-se o «recreio» da Europa. Nascem vários clubes dedicados ao montanhismo, aristocráticos no começo, mas progressivamente aburguesados e até proletizados. Esta é a época em que surge o turismo de saúde na montanha, com a construção de vários sanatórios e clínicas para a prevenção ou cura da tuberculose, mas também do ligado à prática de desportos de Inverno.» [BARROS, 2015: 22]

Expedição Científica à Serra da Estrela (1881) © na Net (?)

A atracção pela montanha e pelas práticas turístico-desportivas, designadamente o montanhismo e o esqui, tal como a promoção da saúde e dos sanatórios em altitude, também estiveram em voga, no século XIX, no nosso País. «A prática de montanhismo em Portugal remonta (…) aos finais do século XIX inícios do século XX e está associada a Gomes Teixeira, Emídio Navarro e Sousa Martins, entre outros pioneiros. O papel desempenhado pela Expedição Scientifica á Serra da Estrella, de 1881, foi marcante para a implementação e desenvolvimento da actividade. O Cântaro Magro foi escalado, durante essa expedição organizada pela Sociedade Geográfica de Lisboa, por Alfredo Serrano e outros companheiros. Aliás, a montanha já tinha sido escalada anteriormente. A obra Quatro Dias na Serra da Estrela de Emídio Navarro, editada em 1884, surge como resultado imediato da forte dinâmica imposta pela dita expedição e constitui um excelente exemplo do espírito que se vivia nos alvores do montanhismo em Portugal.
Apesar das viagens do matemático Francisco Gomes Teixeira terem sido publicadas somente em 1926 ocorreram no final do século XIX, mais precisamente na segunda metade da década de 70. O livro Santuários de Montanha – Impressões de Viagens, não sendo o primeiro publicado em Portugal sobre montanhismo, é sem dúvida um marco maior da bibliografia de montanha em Portugal.
Em 1912 já se falava, no livro Aos Montes Hermínios – Impressões de uma viagem de exploração desportiva na Serra da Estrella organisada pela revista «Tiro e Sport», de Duarte Rodrigues, na criação do “Club Alpino Portuguez”.» [CUIÇA, 2010: 37-38]
O famoso Sousa Martins, médico e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, para além de ter sido um dos pioneiros da prática de montanhismo em Portugal também foi um grande promotor da implantação de Casas de Saúde em altitude… A importância do turismo de saúde na montanha continuou no século XX, designadamente através da construção do Sanatório da Serra da Estrela, tal como a implementação dos desportos de inverno que, nos anos 30-40, viriam a revelar um desenvolvimento notável. Curioso será o estado a que chegou a prática de desportos de montanha, mormente no que concerne ao montanhismo e à escalada, mas também ao esqui, na Serra da Estrela! Será caso para lembrar ecos de outros tempos? ««Altitude» não significa apenas uma certa posição física, – situação dum ponto acima do nível do mar; traduz também uma posição moral, elevação da alma acima do comum, acima do charco lodoso ou da planície rasa, onde pululam a grosseria e a mediocridade…» [PATRÍCIO, 1938: 9] Altitude era atitude e ainda é?

Sanatório da Serra da Estrela © na Net (?)


Torre (1991 m) © na Net (?)


© na Net (?)



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, Vera Gouveia. Turismo em Portugal. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2015, pp. 88. 
CUIÇA, Pedro. Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Campo Base, 2010, pp. 224. ISBN978-989-96647-1-5
PATRÍCIO, Ladislau. Altitude – O Espírito na Medicina. Lisboa: Edições Europa, 1938, pp. 192.


Espólio fotográfico de Manuel Magno, fundador do Ski Club de Portugal
© na Net (?)

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